Acho que minha escrita me dá uma perspectiva acerca do meu futuro. Neste momento, me encontro sem destino algum. Tenho uns 10 textos incompletos e um blog -este blog- parado. Mas hoje eu decidi tentar me dar mais uma chance e quem sabe escrever as linhas da minha vida (Cora Coralina - Meu Destino), mesmo com uma grande dificuldade, um leve déficit de atenção não laudado e uma tendência à falha constante. Bom, algumas atualizações sobre a minha vida: eu não tenho mais a minha mochila preta, agora tenho uma bolsa marrom; faço faculdade; aprendi a beber; e entendi que a vida é triste, mas tem momentos felizes.
Visto isso, posso dizer que muitas coisas aconteceram, coisas boas e ruins. Mesmo assim não tenho expectativa sequer de terminar as linhas de meus textos. Como se abrisse parênteses intermináveis, vírgulas demais e tentasse dar o fim apenas com reticências… mas tudo precisa de um ponto final.
Por que tanta ansiedade, né? A pressa, a síndrome da folha em branco, o desejo de ser algo que muitas vezes não é alcançável se minha única ação é ficar parado. Essas coisas definitivamente me fazem ter um baque e não terminar nada (como este texto, que eu larguei por 2 meses depois de apenas dois parágrafos e meio), a gente (eu) quer(o) tanto, mas fica preso a ideia da falha e da frase que mais tem percorrido a minha cabeça nos últimos tempos: “de que adianta?”
Não sei se você, querida pessoa que está lendo, sente isso também, mas eu estou tão acabada pelo capitalismo, que às vezes sinto que não mereço nenhum tipo de hobby, diversão e/ou alegria. É meio triste pensar isso, mas a concepção de “diversão” ficou um pouco complexa há um tempinho pra mim, pois eu acabei. Vejamos: diversão no dicionário significa: “Passatempo; o que distrai, diverte…”, e eu me perdi na parte do distrai… várias coisas me distraem, mas não acredito que elas me divirtam. Vídeos no Tik Tok, com subway surfer e uma pessoa narrando alguma coisa (que pode muito bem ser mentira) me distraem mais do que eu me orgulho de dizer, mas não me divertem. A questão é que as atividades que me distraem deveriam ser prazerosas. E o prazer também é algo confuso.
Sabe aquela pessoa que sempre bebe quando sai? Acho que me tornei algo assim. Bom, a bebida me deu confiança, eu fico mais engraçado e não tenho medo de dizer algumas coisas que eu teria quando sóbrio além de ter aquela sensação de leveza como se tudo no ambiente fizesse sentido naquele momento. O problema é precisar beber sempre antes de sair, ou beber sem precisar sair, só a procura da leveza que a realidade não consegue proporcionar tão facilmente. Isso virou minha distração e prazer, logo, a minha “diversão”. Mas em momento algum eu escrevo estas palavras com orgulho…
Meu tio favorito também era engraçado quando bebia. Ele me falava sobre os sonhos que tinha quando era jovem, sobre o que ele gostava de estudar e ainda fazia uma piada entre isso. Ele era uma pessoa doce e muito boa pro mundo, mas ele não tinha prazer em mais nada na vida, tanto que ele deixou a bebida decidir qual seria o futuro dele, o que me faz não poder mais ver o meu tio e ficar triste ao lembrar que ele tinha sonhos e perdeu prazer pela vida o suficiente para não realizá-los. Vou mentir se disser que parei de beber quando ele morreu, na verdade eu bebi bem mais. Queria de alguma forma me livrar dessa sensação horrorosa de que eu não mereço diversão alguma.
Gosto de pensar na relação da Rita Lee com a bebida, porque a mesma era alcoólatra, foi internada algumas vezes e já disse sobre ele ser a pior das drogas. Não posso discordar dela. Mas o texto não é sobre o álcool em si, e sim sobre a diversão.
Nós vimos 3 casos de pessoas que achavam que através da bebida elas poderiam se distrair e ter uma versão melhor delas mesmas, onde três morreram: meu tio morreu alcoólatra, Rita por causa de um câncer no pulmão (já sóbria há anos) e eu… morri por dentro. Todos queremos sentir algo que não seja a violência do mundo, do capitalismo, da depressão, da solidão e etc. mas, como?
Bom, acho que pra mim este texto tem sido uma forma de eu encontrar uma distração que me causasse prazer. Mas não está sendo tão divertido quanto eu imaginava. Porém, acho que eu preciso me desintoxicar de tudo que estava me afastando de mim mesma para chegar ao que me causa diversão, já que tem sido difícil alcançar essa sensação ultimamente. Desintoxicação é o terceiro e último ato deste texto.
Bom, no final do ano passado (2022) eu perdi o meu cachorro, o que me abalou emocionalmente. A ideia de perder uma coisinha pequena que latia para tudo que passava na rua me deixou mal, mesmo que eu não fosse o ser humano favorito dela. Mas enfim, minha cachorrinha estava doente e algo havia intoxicado seu corpo. Não vou deixar detalhes aqui, porque é meio chato e ninguém gosta de ficar lendo muito sobre animais que morreram, mas eu lembro um dos últimos momentos dela. Ela estava na grama olhando pro nada, mas dava pra ver que ela sabia que deveria ter entendido que não viveria muito tempo mais, e ela tinha aceitado isso. Bom, ela foi fazer o que gostava de fazer diariamente: tomar um sol em um ponto específico de casa. Lá ela ficou até o fim.
Acho que quando superamos o que nos faz mal, a gente consegue ter a paz para fazer o que nos diverte, mesmo se isso for nos últimos momentos de vida. Talvez.
Bom, para encerrar queria dizer que o futuro é incerto, como tudo sobre a nossa existência na terra, mas que a cada dia, apesar das dificuldades e correrias, possamos escolher algo que nos divirta da forma certa, ou então que possamos colocar para fora o que nos traz angústia no meio da noite, seja em forma de música, dança, desenho ou até em um texto (sem pé ou cabeça, mas que foi uma experiência que me tirou da inércia). Apesar de parecer que tudo não tem jeito mais, talvez não estejamos nos distraindo da forma “certa”.
mochila preta
música do dia: https://www.youtube.com/watch?v=9wH_PuK2wjM